MAÇONARIA: 300 ANOS DE INCOMPREENSÃO

Em OBSERVADOR 01 junho 2023

Os maçons regulares não pretendem tratamentos de favor ou de exceção.

Pretendemos apenas ver reconhecido um papel historicamente comprovado ao lado da liberdade e da democracia.

Armindo Azevedo

Economista, Grão-Mestre da Grande Loja Regular
de Portugal – Grande Loja Legal de Portugal

Iniciámos a contagem decrescente para as celebrações dos 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974. Uma data histórica de libertação da tirania e de afirmação da vontade coletiva dos Portugueses em prosseguirem a construção de uma sociedade assente nos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Valores maçónicos, firmados de forma categórica aquando da revolução francesa de 1789.
Lamentavelmente, no entanto, decorrido quase meio século sobre esse momento profundamente transformador, a Maçonaria Regular permanece à margem do protocolo do Estado, não é incluída nas celebrações oficiais da República e, por vezes, é antes pelo contrário tratada de forma ostensivamente
discriminatória. Mesmo em democracia. Mesmo depois de ter combatido essa mesma discriminação durante a ditadura.
Recentemente, a convite da Grande Loja Regular de Portugal para uma conferência, esteve no nosso país um membro da Grande Loja Nacional Francesa, e especialista nas ‘Constituições de Anderson’, documentos datados de há 300 anos e que são considerados fundadores da maçonaria inglesa e, portanto, da maçonaria moderna. Como então foi referido, a Maçonaria Regular está atualmente preocupada com “O evitar dos exageros esotéricos e alquímicos, tanto quanto os desvios deístas, ateístas e materialistas”. Para os maçons regulares, recorde-se, é mandatória a crença num ser superior, “Grande Arquiteto Do Universo” que supremamente nos ilumina neste caminho marcado pela contínua busca da perfeição e da verdade, orientado pelo Bem e pelo equilíbrio da relação connosco mesmos, e entre nós e os outros.
Desde 1723 – para não irmos mais atrás e nos ficarmos pela data das ‘Constituições de Anderson’ – a incompreensão para com os maçons regulares foi profundamente sentida onde existiu tirania e ditadura; sempre que o pensamento único se quis impor, aí foram os maçons proibidos de se reunir. Foi assim com Hitler e com Estaline, com Mussolini e Franco e com Salazar, para citar apenas alguns dos mais recentes opressores da liberdade de reunião e de expressão.
Na Assembleia da República, por iniciativa de partidos democráticos, foram na legislatura anterior obrigados regimentalmente os deputados a declarar a sua condição de pertença à Maçonaria. Com a oposição do Partido Socialista, é certo. Mas sem que esse mesmo partido, agora em maioria absoluta, viesse repor a salvaguarda do direito da liberdade dos indivíduos e o respeito pela privacidade das opções filosóficas e espirituais e crenças de cada um, direitos que – como dissemos na altura – ficaram postos em
causa no lugar que entre todos seria o mais insuspeito para esta decisão; a Assembleia da República, a casa por excelência da nossa democracia. Os maçons regulares não pretendem tratamentos de favor ou de exceção.
Pretendemos apenas ver reconhecido um papel historicamente comprovado ao lado da liberdade e da democracia, e interventivo no apoio solidário a inúmeras causas da sociedade civil, em Portugal como além-fronteiras, com destaque para os países de língua oficial portuguesa. Queremos tão somente que exista um tratamento, por parte do Estado, similar ao que existe em países como os EUA e Inglaterra, França e Alemanha ou Suécia. Nesse sentido, irá a Maçonaria Regular iniciar diligências no sentido de um
diálogo empenhado e aberto com as entidades competentes, no sentido de podermos vir a contar com a inclusão oficial da Maçonaria Regular nas celebrações dos 50 anos de Abril, ao lado de tantas outras organizações e instituições, religiosas ou laicas. Essa é uma missão a que nos propomos, contribuindo assim para ultrapassar estes 300 anos de incompreensão.

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